Por que os conselhos de alimentação saudável mudam tanto?
Se você estivesse procurando informações sobre alimentação saudável tempos atrás, provavelmente tentaria limitar, talvez até banir, o consumo de gordura. Ela era associada a obesidade, colesterol e alto risco de infarto.
Pesquisas mostraram agora que pessoas que consumiram mais gordura saturada não tinham maior risco de doença cardíaca, AVC ou qualquer outra forma de doença cardiovascular.
O ovo também vive na corda bamba. Seu consumo já foi vetado para quem tem colesterol alto. Mas, hoje, pesquisas não apontam relação entre o consumo de um ovo por dia e aumento do risco de problemas cardiovasculares.
As explicações para isso são várias. Uma passa por uma dificuldade desse tipo de estudos: isolar variáveis quando se trata de compreender a alimentação humana.
O controle que os pesquisadores têm sobre a alimentação de voluntários está longe de ser total, e muitas vezes eles dependem de relatos das pessoas sobre o que elas comem, informações que não são completamente precisas. Outros fatores não alimentares ainda influem nos resultados, como atividades físicas ou até questões emocionais.
Editoria de Arte/Folhapress |
Além disso, pesquisas confiáveis exigem acompanhar grupos grandes de pessoas ao longo de períodos razoáveis de tempo.
Mas, como apontam os nutricionistas ouvidos pela Folha, nem sempre pacientes e a mídia têm paciência: quando o assunto é saúde e emagrecimento, respostas milagrosas e modismos fazem sucesso, o que dá combustível a pesquisas com limitações metodológicas ou estatísticas.
"É preciso que fique claro que os efeitos da alimentação na saúde não têm percepção imediata, como um remédio que faz a dor de cabeça passar", diz Lara Natacci, nutricionista da Diet Net.
Além disso, o público não especializado tem dificuldade para entender que conclusões científicas abstratas sobre os benefícios de determinado alimento não necessariamente se aplicam a casos específicos individuais.
"Temos informações gerais, mas ninguém sabe exatamente como cada um funciona. A biologia nunca é uma ciência exata", afirma Sophie Deran, nutricionista da USP.
Na maior parte das pessoas, por exemplo, o consumo de gorduras reduz o HDL, que é o colesterol bom. Mas estudos indicam, aponta a pesquisadora da USP, que as gorduras têm o efeito contrário em 20% da população –e não se sabe precisamente o motivo.
Por fim, é bom ter em mente que há gente ganhando dinheiro com modismos alimentares, diz Lara. "O marketing da indústria do emagrecimento é mais rápido do que o estudo científico."
Sophie conta que já assistiu a uma palestra sobre mitos e verdades do adoçante financiada por uma indústria do setor. "Havia centenas de nutricionistas lá. É como publicidade. Você tem que entender que há interesses."
A solução para lidar com esse mar de informações contraditórias sobre os benefícios e malefícios dos alimentos? Não ficar paranoico com isso, afirma Sophie.
"Quanto mais você pensa em alimentação, mais se estressa. O ato de comer vira uma preocupação. Se você senta para comer estressado, culpado, não vai comer nem digerir do mesmo jeito", diz a pesquisadora.
Folha Press
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